Monte Roraima: Guia Completo Para Trekkers

Ir para o Monte Roraima sempre foi um sonho de consumo! E aposto que, se você gosta de fazer trilhas em lugares ainda bastante pouco explorados, o Monte Roraima na Venezuela, Brasil e Guyana estará na sua lista, com certeza!

• Onde Fica o Monte Roraima?
• Monte Roraima – Como Chegar?
• Quem Contratar Como Guia Para o Monte Roraima?
• O Que Levar para o Monte Roraima?
• Trilha para o Monte Roraima – Dia a Dia
• É seguro visitar o Monte Roraima??
• Do Oiapoque ao Chuí

Onde Fica o Monte Roraima?

O Roraima é um dos lugares mais fantásticos e, de certa maneira, isolados da América do Sul. Ele fica localizado na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guyana. Um dos pontos principais para todos os trekkers para o Monte Roraima é o Marco da Tríplice fronteira. São poucos os lugares onde você poderá visitar três países simultaneamente!

A Altitude do Monte Roraima

O ponto mais alto do Monte Roraima, o Maverick, fica à 2810m de altitude. Para quem está acostumado a trilhar em montanhas, isso não é muita coisa. Muito cuidado caso vocês estejam indo fazer a trilha de altitudes baixas. A altitude poderá te afetar! Fiquem ligados!

É sempre bom levar algum remédio para combater os efeitos da altitude, como diamox. Mas como a altitude não é tão alta, em muito pouco tempo você já estará bem, então evitem tomar remédios.

Monte Roraima – Como Chegar?

Para chegar no Monte Roraima, precisa primeiro chegar ate Boa Vista, capital do Estado de Roraima. Saindo de São Paulo, tem alguns vôos diários, com escalas em Brasília ou Manaus.

Se você já viajou pelo interior do Brasil, você saberá que táxis são caros e os preços variam pelo fato de virem de fora. Chegando do aeroporto, terão que pegar um transporte público até a Rodoviária ou o Terminal do Caimbé, de onde operam as cooperativas de táxis. Isso te custará por volta de R$40-50, o que é um pequeno absurdo, porque a viagem dura 10 minutos!

Os serviços de ônibus até Pacaraima, cidade fronteiriça do lado Brasileiro, são infrequentes e, às vezes, cancelados de última hora, então, melhor se informarem com a Rivaltur Turismo antes de escolherem essa opção.

Aproveite sua estadia em Roraima para visitar outras coisas como o Sítio Arqueológico da Pedra Pintada.

Outras Opções

As duas outras opções são táxis particulares do aeroporto, o que custaria por volta de R$450 (negociável) ou, saindo do Caimbé, um táxi lotação por R$50/pessoa. A espera pode ser um pouco longa, pois o motorista só sairá com o carro cheio.

Depois de 3 horas de viagem, chegará na fronteira com a Venezuela. Chegando lá, tera que passar pelos trâmites da imigração que todos conhecem. Depois que passar pela imigração Brasileira e Venezuelana, ter mostrado seu passaporte/identidade, apenas espere por alguns minutos do na fronteira mesmo e um táxi venezuelano buzinará para te levar ate Santa Elena de Uairén, ponto de partida para o Monte Roraima. Agora começa a grande aventura!

Quem Contratar como guia para o Monte Roraima?

Enquanto estava pesquisando sobre quem contratar, alguns nomes apareceram no google, alguns com boas revisões, outros com ruins. Alguns muito baratos, outros extremamente caros.

Devido a muitos fatores, eu decidi ir pelo que foi mencionado mais vezes, Leopoldo Pillar. Ele foi super receptivo, sempre manteve contato e nos manteve informados de qualquer mudança. Como eu só contratei uma empresa e so fui uma vez, não posso recomendar outros. O nosso guia foi o Gerardo Gallegos, pessoa muito boa e um ótimo profissional.

Caso eu fosse novamente, com certeza não procuraria outro. O Gerardo será sempre o meu guia ao Monte! Existem maneiras de falar diretamente com o guia, sem passar pelo “superior” dele. Talvez não pague menos, mas os guias, geralmente, pagam as outras pessoas envolvidas na expedição um salário melhor, então vale a pena pensar nisso, o Gerardo sendo um deles!

Monte Roraima – Quanto pagar na expedição completa?

Outro assunto muito importante! No caminho de ida e volta ao Roraima, encontrei diversos grupos e, na cara dura, perguntei quanto tinham pago. Ouvi preços entre R$600 à R$3000 por pessoa. Tendo visto o cotidiano do pessoal e sabendo quanto um carregador recebe, um preço é exploração da mão-de-obra e o outro, alguém está ganhando MUITO dinheiro e não é para os guias nem os carregadores, que são contratados das comunidades indígenas locais.

Custos para o Monte Roraima

Custos para a trilha do Monte Roraima (trilha de 9 dias e 8 noites, Janeiro 2019):

• Passagem aérea à partir de São Paulo: R$1200;
• Contração da expedição: R$1500/pessoa;
• Transporte (táxi) aeroporto (BVA) até ponto de táxi para Pacaraima: R$40 (facada!!!);
• Táxi de Boa Vista-Pacaraima (fronteira BR/VZ): R$50 (as outras alternativas foram inviáveis);
• Lotação Pacaraima-Santa Elena de Uairén: R$4;
• Hotel em Santa Elena por duas noites (cheguei dois dias antes): R$50;
• Hotel em Boa Vista por uma noite: R$40.

A Realidade do Monte Roraima

Ainda acho que os guias e os carregadores são muito mal remunerados, então recomendo contactar o guia diretamente. Peçam para contratar os carregadores chamados Cururú e Diógenes. Duas pessoas fantásticas! Os carregadores levarão sua vida nas costas deles, quase que literalmente, pois existem casos dos carregadores descerem com pessoas nas costas, já que não aguentaram o tranco da subida.

Monte Roraima – O que levar?

Bem, confessarei… levei coisa demais no começo! Mas consegui deixar metade em Santa Elena! Ainda bem, senão não conseguiria ter completado a trilha.

O Monte Roraima é um dos lugares mais úmidos da Terra. Pelo fato de estar bem próximo da linha do Equador, não faz muita diferença entre estações. Numa viagem ao Roraima, espere frio e umidade.

O que levei para o Monte Roraima:

• Sacos plásticos para colocar suas roupas;
• Camisetas de corrida (de material que seca rápido);
• Dois pares de roupas à prova d’água;
• Botas a prova d’água;
• Roupas térmicas (pelo menos dois pares);
• Um par de meia para cada dia;
• Saco de dormir e tapete térmico;
• Toalha para trilha;
• Sabonete e shampoo ecológico;
• Roupas de banho;
• Comidas calóricas para a trilha;
• Corda para varal.

Depois de alguns dias molhados, nunca subestimem o quanto é bom ficar seco! Então, de tudo, não esqueçam os sacos plásticos e mantenham as roupas secas e molhadas separadas! Sempre que o tempo abrir um pouquinho, estenda suas roupas molhadas! Eles são raros!

Trilha para o Monte Roraima – Dia a Dia

Do mesmo jeito que falo com os meus alunos que levo para acampar, o estado de mente é o mais importante para uma expedição bem sucedida. Para conseguir completar qualquer trilha, 80% é mental, 20% é físico. Entá, vá fazer a trilha dizendo que será difícil, mas que você não desistirá!

Dia 1 – De Paraitepuy para o Acampamento do Rio Tök

Já com o guia contratado, mochilas mais level e chapéu de palha na cabeça, chegou a hora de sairmos. O Gerardo contratou uma caminhonete 4×4 para nos levar até Paraitepuy (O Monte Roraima e o Monte Kukenan são chamados de Tepuy, então o nome da Vila!).

No caminho, paramos para pegar o Cururú e o Diógenes, os carregadores da expedição. O primeiro dia da expedição é o mais plano. Logo no começo, um pequeno morro nos pegou de surpresa, sendo um pouco difícil a subida, mas chegando no topo, vemos a majestade do Monte Roraima e Monte Kukenan. Eles parecem estar muito longe mesmo, devido aos seus tamanhos, mas a moral não pode cair! Está apenas no começo da viagem!

Distância até o Acampamento

A primeira légua da viagem tem uma distância de 14km (duas léguas, na verdade). As vistas são maravilhosas, então você acaba não percebendo o quanto andou. Mas sempre quando se dava conta, batia aquele medinho do que ainda estava por vir. O medo de que teria que subir aquela montanha estava se tornando uma realidade com cada passo que eu dava, mas também a realização daquele sonho de menino!

Vimos bastante pássaros no caminho, alguns rios, bastante árvores, mas sempre secundários à aquele monstro do horizonte. Quando o Monte Roraima estava ficando bem perto, chegamos ao acampamento do Rio Tök. Aquela imagem clássica imagem do Roraima á direita do Kukenan nos deu boas vindas com um anoitecer bem limpo, com poucas nuvens, umas duas horas antes do pôr-do-sol.

Experiências do Primeiro Dia

Ficamos olhando para o Roraima, enquanto esperávamos o Sol se por atrás da gente. Mas a luz do por-do-sol iluminou aquele paredão de pedra e acabamos perdendo o por-do-sol por causa daquela maravilha. Como não tinha como carregar a minha câmera durante os 9 dias, a guardei e fiquei apreciando aquela vista maravilhosa.

Enquanto ainda havia luz, desci para o Rio para tomar banho (Sim, banho acontecerá em rios e piscinas naturais geladas). Os guias sempre cozinharão comidas altamente gordas, muitos carboidratos, para aguentarmos o tranco do próximo dia. Finalmente, o dia chegou ao fim!

Dia 2 – Até o Acampamento de Base

Essa parte da caminhada começa a ficar mais interessante. Finalmente, chegou a hora de ver se as corridas, condicionamento físico etc vão valer a pena! A caminhada até o acampamento de base já começa boa, com a travessia do Rio Tök e subidas. Conforme vamos nos aproximando do Monte Roraima, mais íngreme a trilha vai ficando. São 9km até o acampamento base. Até esse ponto, já vai se vendo e sentindo uma mudança na vegetação e na temperatura do ambiente. São outras 3 horas de caminhada até esse ponto, mas já bem mais difíceis do que a primeira légua da jornada.

Dada as datas de partidas de expedições e o retorno, nesse segundo dia acabamos encontrando com bastante gente. É nesse ponto que você vê qualé que é das outras expedições: Carregadores contratados para levar a sua mochila, grupos com um carregador por pessoa, famílias inteiras de todas as idades… é bastante interessante ver tudo isso. Esse caminho tem bastante pedras soltas, paradas para deixar outras expedições passarem por você etc. Tudo isso ajuda a deixar a moral cair e todos aqueles pensamentos de possíveis dores invadirem seu cérebro. A grande luta acaba de começar.

A Maravilha do Monte Roraina

Nesse ponto, você já vê a monstruosidade da Montanha, dando até um pouco de torcicolo para ver o topo. Com um chuvisco constante e as coisas começando a ficar molhadas, é preciso manter o otimismo, pois é nesse ponto que muitas pessoas acabam desistindo.

Dia 3 – Ataque ao Topo

Acordar cedo para fazer o ataque gera um pouco de medo. À partir desse momento, tem que manter a mente no prêmio: Chegar ao topo do Monte. Isso não é algo fácil. A distância horizontal entre o Acampamento Base e o ponto onde chegamos ao topo é de mais ou menos 500m, mas a subida vertical é de 1km. Os degraus da caminhada, para quem é baixinho como eu, às vezes precisa de uma força braçal. Sobe, sobe, sobe, desce um pouco… sobe, sobe, sobe, desce mais ou pouco. Mas as coisas vão mudando. Palmeiras vão virando bromélias, sapos verdes vão virando pretos, areia vai virando pedra, céu azul virando nuvem, seca virando chuva. Nesse ponto da caminhada, você estará completamente molhado, as coxas e os glúteos pegando fogo, a energia do começo já se esgotando.

Já assistiram o filme Up? Então, nesse ponto da história, está tudo nublado, com uma cerração bem baixa. Bate um vento e todas aquelas rochas, cheia de formas, começam a aparecer no horizonte. As dores da subida somem, você esquece que esta a beira da hipotermia e só apreciar a paisagem. É uma maravilha estar lá em cima, montar o acampamento e sentar ao lado do fogo. Aproveitar o tempo para estender as roupas molhadas e rezar para que elas sequem, pois no topo da Montanha, céu azul é um privilégio.

Dia 4 – La Ventana

Durante a formação do Monte Roraima e do Monte Kukenan, houve uma explosão geológica que abriu fez as montanhas crescerem quase que de uma vez só. Essa grande pressão e altas temperaturas da explosão fizeram com que o Monte Roraima se tornasse um paraíso de diamantes.

Durante a formação, se criou um vão enorme entre as duas montanhas. Ainda um pouco alto, qualquer vento úmido que se passa e não tem força para subir ate o topo das montanhas, se condensam na Ventana. Só estando lá para ter a experiência desse lugar. Essa foi a primeira noite num hotel (acampamento) no topo do Monte Roraima.

O amanhecer é a melhor hora para visitar a Ventana. O calor do Sol ainda não começou a estimular os ventos fortes e as nuvens ainda estão abaixo do topo da montanha.

Dia 5/6/7 – Hotel Quati, Tríplice Fronteira, Lago Gladys e a Proa

Do nosso acampamento próximo a La Ventana, seguimos viagem até o próximo hotel: O Hotel Quati. Esse hotel fica do lado brasileiro do Monte, dentro do Parque Nacional do Monte Roraima, fazendo parte da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol. Nessa caminhada, passamos pelo grande marco que me trouxe até aqui: A Tríplice fronteira entre o Brasil, Guyana e Venezuela. É um marco de concreto que, aparentemente, o exército brasileiro não vai desde 1930.

Seguimos sentido a proa, o outro extremo do Monte. Foram 10km de caminhada lá em cima para… não vermos nada. Estava tudo nublado! Mas não perdemos tempo, fomos para o Lago Gladys. O Lago Gladys é um lago enorme que fica em cima, que não parece ser verdade. Logo chegamos, tiramos algumas fotos e a neblina nos encontrou. Novamente, não conseguimos ver mais nada.

Então voltamos para o Hotel Quati e começamos a nos preparar para o jantar. O céu se abriu depois do por-do-sol e as estrelas ficaram maravilhosas! Começou a sessão de fotos e criatividades.

Dia 7

No dia seguinte, acordamos cedo para ver o Sol nascer sobre a reserva Raposa Serra do Sol. Tinha uma cascata de nuvens catabáticas descendo sobre o Roraiminha (outro pequeno Monte, do lado Brasileiro). Uma paisagem hipnótica, um lugar que da pra entender o porque fazemos essas leves loucuras.

Dia 8/9 – Hora de ir embora!

Chegou a hora de ir embora! Mas precisa ter um drama, né? Passei bastante mal nos últimos dias e quase fiquei sem forças para descer. Mas foi aí que uma um energético em gel foi igual o espinafre do Popeye. Assim, em meia hora, fui de quase morto para conseguir ir do topo até o acampamento do Rio Tök de uma vez só! Às vezes ainda não sei como consegui, mas consegui!

É Seguro Visitar o Monte Roraima?

A Venezuela está passando por bastante instabilidade política ultimamente, o que afeta o turismo para o Monte Roraima. Santa Elena está bastante longe de Caracas, capital da Venezuela e principal zona de conflito. É importante notar que Santa Elena fica perto da fronteira com o Brasil. Em casos de emergência, você não estará muito longe de casa.

É importante saber se, caso a fronteira fechar, por algum motivo (esse risco é bem real), existem meios que os locais te mostrarão para te ajudar a cruzar a fronteira. No geral, vale a pena ir e arriscar! As recompensas superam os riscos demais para deixar para depois!

Não deixem de viajar sem um seguro-viagem!

Monte Roraima – Do Oiapoque ao Chuí?

Primeiramente, fazer a trilha para o Monte Roraima se tornou um pouco de uma obsessão para mim, desde quando eu tinha 7 anos de idade, ou desde quando eu me entendo por gente, o Monte Roraima sempre esteve na minha cabeça. Temos feito bastante trilhas em montanhas, como a Trilha da Coruja no Butão, Trilha da Table Mountain na África do Sul, entre outras, mas o Monte Roraima sempre foi uma obsessão.

Uma outra obsessão que tenho e que ainda não consegui cumprir é o trekking do Campo Base do Everest. Esse está na minha lista e espero fazer em breve. Se você também tem essa obsessão, precisa conferir o post do blog Tripping Unicorn sobre o trekking ao acampamento base do Everest.

Pequena História

Quando eu era pequeno, tinha um Atlas velho em casa e comecei a pesquisar onde estava os benditos “Oiapoque e Chuí”, aquele ditado que todos nós já falamos em algum momento da nossa vida. Ví, depois de algumas observações, que Oiapoque não era o ponto mais ao norte do Brasil, mas sim próximo da tríplice fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guyana.

Para um geógrafo físico, esse ponto é bastante interessante. Mas onde está localizada essa fronteira? Está localizado bem em cima do maravilhoso Monte Roraima. Para um menino de 7 anos que não sabia de nada, isso era muito legal! Mas também, para um menino de 7 anos, o Monte Roraima e a Lua estavam tinham o mesmo grau de dificuldade para chegar, mas não para um veio de 30! Como resultado, aqui vou eu!

Nesse post, tentarei dar um breve relato de como foi a viagem pela qual tanto esperei! Com agradecimentos aos meus amigos Thomás, Iuri e Nivaldo, grandes companheiros de viagem!

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